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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Limites educam. Agressão contra professores é omissão dos pais na instrução dos filhos, por Rebeca Bedone


Lembro-me do meu primeiro dia de aula na quinta série (hoje, o sexto ano do Ensino Fundamental). Tamanha era a expectativa de conhecer o colégio novo que eu mal dormi na noite anterior. Também sentia empolgação porque não carregaria mais uma mochila; adolescente que era, levaria livros e cadernos nas mãos! E a melhor mudança: eu teria vários mestres a quem chamar de professor ou professora (afinal, “tio” e “tia” eram para as crianças do Ensino Básico).

Estas lembranças vieram à minha memória porque, outro dia, um amigo que é doutor e professor em universidade particular me contou sobre um episódio ocorrido em seu trabalho. Ele foi chamado na diretoria da faculdade porque a mãe de um aluno tinha uma reclamação: “você deu nota baixa na prova do meu filho e exijo uma pontuação maior para ele” (no caso, um aluno desinteressado e que não sabia a matéria).

Meu amigo, um homem nos seus 40 e poucos anos, está desiludido com a profissão. Após anos de dedicação aos estudos, seguindo uma tradição familiar da qual ele sempre se orgulhou (ele sempre encheu o peito ao dizer que o pai era docente em universidade), meu amigo está sentindo vergonha de ser professor: não interessa se o aluno é capacitado ou não para passar de ano, o que importa é o dinheiro dele pagando as mensalidades.

Outro dia, li uma notícia sobre uma professora de 58 anos que foi “pega” na saída da escola por dois alunos. Os garotos, de 15 e 16 anos, deram chutes e empurrões na mulher porque ela havia pedido para eles desligarem os celulares durante a aula. Na reportagem, a professora concluiu que a ela restava baixar a cabeça para não perder o emprego nem ser agredida novamente.

Descobri que o Brasil está em primeiro lugar no ranking de violência contra os professores nas escolas: “12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação por parte de alunos pelo menos uma vez por semana”. Segundo a escritora Andrea Ramal, esta “violência contra os professores não pode ser vista como normal”. Ela diz ainda que os pais não devem tirar a autoridade dos professores na frente das crianças, ou seja, que a autoridade pedagógica merece ser respeitada.

Na sétima série, um professor ficou bravo comigo porque eu não parava de conversar enquanto ele fazia a leitura do texto em voz alta. Nunca me esqueci da vergonha que passei na frente dos meus colegas. Entretanto, aquela bronca não me tornou uma adolescente rebelde nem agressiva, muito menos oprimida, mas aprendi que devo ficar calada enquanto alguém está falando para uma plateia.

Quando penso na importância de os pais imporem limites aos filhos, entendo por que meus pais eram “chatos”: meus irmãos e eu tínhamos horário para assistir televisão, que era somente depois de concluída a lição de casa do colégio; e quando eu reclamava que todo mundo voltaria da festa à meia-noite, meu pai dizia “todo mundo menos você, te pego às onze”.

Pensando em meu amigo, acredito que a maioria dos professores goste de seu trabalho; eles só querem ser valorizados. No caso das escolas públicas, reconheço todos os problemas que elas enfrentam, que vão desde a falta de estrutura física e de material escolar até a qualidade técnica ruim de alguns professores (um fato que acaba sendo consequência de eles serem desvalorizados e mal remunerados). Entretanto, apesar de todo o caos que existe no sistema educacional, ainda é responsabilidade da família ensinar princípios éticos e morais a crianças e adolescentes que estão iniciando o seu convívio em sociedade. É dentro de casa que se aprende o respeito ao próximo e, principalmente, aos mais velhos.

Assim, quando relembro aquela menina que adorava ir pro colégio (e que nada sabia sobre o futuro, se ela seria médica, astronauta ou poeta), sinto-me grata pela educação que meus pais me deram; e reconheço que cheguei aonde estou por causa dos professores que me guiaram até aqui.

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