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sábado, 2 de abril de 2016

O PECADO DA INTOLERÂNCIA


O PECADO DA INTOLERÂNCIA

Numa escola de uma capital brasileira, alguns pais reclamam com a direção: não querem seus filhos estudando ao lado de dois meninos estrangeiros, de um país que consideram “atrasado e fanático”. A direção, a meu ver, pecando por compactuar com a intolerância, agravada pelo fato de envolver crianças, pede aos pais que resolvam o assunto entre eles. Resultado: os pais dos meninos estrangeiros, pressionados de um lado e desamparados de outro, tiram os filhos da escola. Diga-se que o pai em questão é um executivo com um currículo invejável e a mãe, professora universitária. Mas, ainda que fossem pessoas simples, seus direitos teriam sido igualmente feridos.
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Num restaurante de classe média, pessoas torcem o nariz e pagam a conta antecipadamente, sem concluir a refeição, porque, na mesa ao lado, se senta um casal negro, com uma filha e um filho adolescentes. Ninguém comenta ou reclama de que se trata de uma demonstração criminosa de racismo, não comprovável, mas evidente. A adolescente discriminada põe-se a chorar e pede aos pais para irem embora também. A família comemorava ali o 14º aniversário dela.
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Um rapaz decide largar os estudos superiores e empregar-se numa empresa decente. O salário não é alto, mas a situação lhe convém: ele prefere experiência a diploma, e é isso que lhe está sendo oferecido. O pai resolve não falar mais com ele, nega-lhe qualquer ajuda monetária e só não o expulsa de casa devido aos apelos da mãe. Porém, em todas as ocasiões em que é possível, deixa claro que o filho é “a sua grande decepção”.
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Uma mulher decide sair de um casamento infeliz e pede a separação. O marido, que, certamente, também não está feliz, recusa qualquer combinação amigável e quer uma separação litigiosa. As duas filhas moças tomam o partido do pai, como se, de repente, a mãe que delas cuidara por mais de vinte anos tivesse se transformado em alguém desprezível, irreconhecível e inaceitável. Nenhuma das duas lhe pergunta os seus motivos; ninguém deseja saber de suas dores; nenhuma das duas jovens mulheres lhe dá a menor chance de explicação, o menor apoio. Parece-lhes natural que, diante de um passo tão grave da parte de quem as criara, educara, vestira, acarinhara e acompanhara devotamente por toda a vida, fosse negado qualquer apoio, carinho e respeito.
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Os casos se multiplicam, são muito mais cruéis do que esses, existem em meu bairro, em seu bairro. Nossa postura diante do inesperado, do diferente, raramente é de atenção, abertura, escuta. Pouco nos interessam os motivos, o bem, as angústias e buscas, direitos e razão de quem infringe as regras da nossa acomodação, frivolidade ou egoísmo. Queremos todos os privilégios para nós, a liberdade, a esperança. Para os outros, mesmo se antes eram muito próximos, queremos a imobilidade, a distância. Cassamos sem respeitar os seus direitos humanos mais básicos. A intolerância, que talvez não conste no índex das religiões mais castradoras, é, com certeza, um feio pecado capital. Do qual talvez nenhum de nós escape, se examinarmos bem.


LUFT, Lya

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