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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

VERUSCHKA, A MULHER CAMALEOA


Ela foi a maior supermodelo do mundo. Ícone da moda e da Swinging London, artista da vanguarda cultural da década de 60, provocou uma revolução nos conceitos de beleza, da fotografia e do próprio "fashion world". Conheça agora o fabuloso destino de Veruschka Von Lehndorff.

Veruschka von Lehndorff.

Nasceu Vera Gottliebe Anna Gräfin von Lehndorff-Steinort, em 1939, em Königsberg, então parte da Alemanha. Seus pais eram membros da alta nobreza alemã e a pequena Vera cresceu num ambiente de riqueza e conforto. Enquanto isso, fora das paredes do Palácio de Steinort, decorria a II Guerra Mundial, que acabaria por mudar os rumos de sua vida em 180 graus.

Seu pai, oficial da reserva do exército alemão, foi um dos membros chefes da resistência militar alemã a Hitler, no final da guerra. Em 1944, quando Vera tinha apenas cinco anos de idade, seu pai foi julgado e executado pelo fracassado atentado contra a vida do Führer, do qual ele era um dos principais comandantes. Daí para frente, a vida de Vera e sua família mudaram completamente. Ela e suas três irmãs foram afastadas da mãe e da restante família e mandadas para campos de trabalhos forçados, onde ficariam até o fim da guerra. Esses tempos difíceis deixaram marcas profundas em Vera. Com o fim do conflito, sua vida virou de cabeça para baixo. Sua família se mudava constantemente de residência e ela estudou em treze escolas diferentes na adolescência.

A jovem Vera estudou artes em Hamburgo e Florença, cidade onde foi descoberta pelo fotógrafo Ugo Mulas, que a iniciou no mundo da moda. Levada para Paris no fim dos anos 50, lá encontrou Eileen Ford, a cabeça da prestigiada agência Ford Models, que contratou a jovem Vera e a levou depois para Nova York. Porém, o sucesso não veio de imediato. Ela quase desistiu da carreira, mas foi repensando e acabou por inventar uma nova Vera - ou melhor, Veruschka.


A força do exotismo
Sua figura exótica não fizera sucesso nos Estados Unidos. Ela trazia uma imagem ainda um tanto quanto estranha para a época. Vera media 1,83cm de altura e calçava tamanho 43. Sua beleza germânica, magérrima, de cabelos muito loiros e olhos muito azuis, diferia bastante daquele das clássicas modelos norte-americanas da época, verdadeiras ladies.


Capa da biografia "A minha vida", de Veruschka.


No tempo que compreendeu o fim da década de 50 e começo da de 60, a moda vivia um período de transição. O mundo da moda ainda estava dividido entre a tradição clássica das décadas anteriores, representada principalmente pelo trabalho luxuoso de estilistas como Christian Dior e Cristóbal Balenciaga, e os estilistas de vanguarda da época, como os franceses Yves Saint-Laurent e André Courrèges, que prenunciavam novos tempos e viriam a abrir caminho para outros artistas e para as mudanças radicais dos anos 60. Gente como a jovem modelo Vera também prenunciava novos tempos no mundo da moda.

Sua primeira decisão foi adotar o pitoresco nome de Veruschka, em detrimento do simples "Vera". Ela também investiu numa nova postura, mais misteriosa e blasé. Uma personalidade que favorecesse e somasse mais à sua aura de exotismo pessoal. "Decidi que queria algo grande. ‘Se é para fazer isso, que seja para ter sucesso’, eu dizia a mim mesma. Sempre segui sobretudo minha voz interior, e não o que os outros diziam. Criei uma personagem que muitas pessoas achavam distante, misteriosa, mas que sempre era eu mesma." Foi assim que Vera se tornou Veruschka.

Naquela época, ainda não havia "supermodelos" como conhecemos atualmente. Veruschka viria a ser uma das primeiras. Nos anos 50, a fotografia de moda ainda estava se desenvolvendo. Um dos pioneiros, o francês Georges Dambier, foi o primeiro fotógrafo a trabalhar com uma grande equipe de assistentes, que o ajudavam a elaborar suas ideias de imagem. Contudo, sempre seguindo o mesmo estilo clássico - as sessões de fotos limitavam-se aos estúdios e, no máximo, às ruas. Mantinham a linha de glamour e requinte da década.

Do cinema ao estrelato mundial
Nesse meio tempo, surgia um novo grupo de jovens profissionais com ideias modernas e arrojadas. Veruschka era um deles. Depois da metamorfose, sua carreira começou a ganhar impulso. O auge viria em 1966, quando ela fez uma pequena aparição de cinco minutos no cultuado filme Blow-Up do diretor italiano Michelangelo Antonioni. O filme conta a história de um fotógrafo arrogante (inspirado no fotógrafo David Bailey) que se dedica a decifrar um mistério. Em uma cena antológica, Veruschka - como ela mesma - aparece fotografando sensualmente para o personagem de David Hemmings. A cena é considerada uma das mais eróticas da história do cinema.



Alçada ao estrelato mundial, Veruschka tornou-se a maior modelo dos anos 60, rivalizando apenas com a inglesa Twiggy. As duas representavam os dois extremos da mulher da época. Enquanto a imagem de Twiggy era de mais fácil aceitação e identificação com a juventude urbana, a poderosa alemã Veruschka representava uma mulher inacessível: poderosa, luxuosa e sofisticada. Aliado à sua imagem turbinada, havia também uma sensualidade latente e um ideal de modernidade que pareciam fazê-la estar a anos-luz de tudo aquilo. Não há duvidas de que Veruschka foi o maior ícone da época.


Veruschka von Lehndorff, capa de revista Vogue.

Ela trabalhou com todos os grandes artistas da época, como Salvador Dalí e Andy Wharol. Foi fotografada pelos maiores nomes do gênero - Richard Avedon, Irving Penn, Franco Rubartelli, William Klein, David Bailey e Bert Stern, entre vários outros. No auge da carreira, ganhava mais de 10.000 dólares por dia. Seus editoriais para as revistas Vogue, Harper's Bazaar, Elle ou Vanity Fair eram os mais sofisticados e elaborados, com requinte artístico, seguindo um estilo estritamente conceitual. Veruschka tinha um modo de trabalho muito especial, diferente de outras modelos da época que seguiam um estilo pré-determinado. Não vestia apenas as tendências em voga. Participava ativamente da concepção e elaboração dos editoriais de moda, gostava de colaborar, dava opiniões, trabalhava em conjunto com os fotógrafos. Veruschka nunca se viu apenas como uma modelo, ela enxergava o seu trabalho com os olhos de uma verdadeira artista.



A modelo viveu uma época de intensa badalação. Conviveu com as personalidades mais famosas da época, embalada pelo ritmo frenético de uma era dourada para as artes. Veruschka rodou o mundo inteiro, do Japão à África, passando pela América Latina e os Estados Unidos. Em suas viagem, fotografava para publicações de moda e nesses editoriais ficava impresso o entrosamento com as culturas locais com que ela tinha entrado em contato. Suas duas viagens ao Brasil, em 1968 e 1969, causaram frisson. Na companhia do fotógrafo Franco Rubartelli, seu namorado na época, Veruschka fez belas fotos para revistas de moda, no Rio de Janeiro e em Salvador, desfilou pela sociedade, e ainda por cima caiu na gandaia do carnaval carioca.

Símbolo do movimento Swinging London, ao lado de outros nomes como o do fotógrafo David Bailey e das supermodelos Twiggy e Jean Shrimpton, Veruschka marcou uma época de intensa produção cultural, quando a capital inglesa exportava tendências de música, cinema, moda, televisão, artes plásticas e muito glamour.

"Eu achava que deveria ter o poder sobre minha própria imagem"
No entanto, apesar de toda fama, riqueza e sucesso que obtivera, Veruschka praticamente abandonou a carreira em 1972, com apenas 33 anos. Em parte, devido a uma briga com a nova editora chefe da revista Vogue americana, Grace Mirabella, que substituira Diana Vreeland. "Ela quis influenciar meu visual. Queria que eu tivesse um estilo que se parecesse mais comercial, mais ligado à mulher moderna da época, no início dos anos 1970. Ela me disse, gentilmente: ‘Você deveria cortar os cabelos e tentar parecer mais feliz diante da câmara’. Eu não quis e resolvi parar por ali. Eu achava que deveria ter o poder sobre minha própria imagem." Descontente, Veruschka decidiu se afastar do mundo da moda e trilhar outros caminhos.

Veruschka em 2011. Imagem: Blaues Sofa, licença CC-SA 2.0.

Ela decidiu então trabalhar com as artes plásticas, realizando trabalhos mais independentes, mas não menos célebres. Em parceria com o fotógrafo e pintor Holger Trülzsch, ela foi pioneira num estilo de fotografia baseado na transfiguração e camuflagem, feito entre os anos 70 e 80 e lançado em livro. Em Trans-figurations, Veruschka usava da pintura corporal para se metamorfosear nos ambientes em que era fotografada, nua, utilizando na maioria das vezes elementos da natureza. Como se fosse um camaleão, transformou a camuflagem em arte. Veruschka realizou outras foto-performances, todas com a característica sempre arrojada de seu trabalho, E também enveredou pelo caminho do cinema, participando de vários filmes, incluindo um dos mais recentes da franquia 007 - Cassino Royale (2006).

Veruschka nunca se casou, nem teve filhos. Hoje vive sozinha em Berlim. Mas a icônica artista alemã não se exilou totalmente da vida glamourosa, tendo ocasionalmente feito aparições em desfiles e eventos de moda. Como quando desfilou para o estilista britânico Giles Deacon em sua coleção de outono-inverno na Semana de Moda de Londres, em 2010, aos 71 anos de idade. Apesar das dificuldades que enfrentou e do seu retiro precoce do mundo da moda, Veruschka sempre será lembrada como artista, com a bela e exótica modelo que foi: um dos maiores ícones da moda e símbolo dos anos 60, que inspirou o cantor e compositor Jorge Ben Jor na canção "Quase Colorida", dedicada à ela.

"...Tem um meigo sorriso / Tem um lindo olhar / Tem uma doce beleza / Você é bonita até pra chorar / Você é linda / É quase colorida / Você é amor / É o amor da minha vida."


Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/12/veruschka_a_mulher_camaleoa.html#ixzz2Ez3Z0Xzc

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