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terça-feira, 13 de março de 2012

AS JANELAS DE GUILLAUME APOLLINAIRE

"Janelas abertas simultaneamente", quadro de Robert Delaunay, 1912.


JANELAS

Todo o amarelo morre do vermelho ao verde

Quando as araras cantam nas florestas nativas

Miúdos de pir-rís

É preciso escrever um poema sobre o pássaro de uma asa só

Vamos enviar por telefone

Traumatismo gigante

Faz os olhos correrem

Repare naquela moça bonita que passa entre as mulheres de Turim

O pobre rapaz assoa o nariz na sua gravata branca

Você vai erguer a cortina

E eis que a janela se abre

Aranhas quando minhas mãos teciam a luz

Beleza palidez insondáveis violetas

Em vão tentaremos um cochilo

Começaremos à meia-noite

Onde se tem o tempo tem a liberdade

Mexilhões Bacalhau múltiplos Sóis o Ouriço do poente

Um par de velhas botas amarelas na janela

Torres

Torres são ruas

Poços

Poços são praças

Poços

Árvores ocas abrigando mestiços vagabundos

Mulatos cantam cantigas que matam

Mulatos barulhentos

E o ganso trompeteia seu ruá-ruá rumo ao norte

Onde caçadores de guaxinim

Raspam as peles da caça

Vancouver

Diamante brilhante

Onde o trem branco de neve e seus fogos noturnos fogem do inverno

Ô Paris

Todo o amarelo morre do vermelho ao verde

Paris Vancouver Hyères Maintenon New-York Antilhas

A janela se abre como laranja

Bonito fruto da luz



GUILLAUME APOLLINAIRE

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes


Este poema, de 1912, publicado para o catálogo da exposição de seu amigo e pintor Robert Delaunay, exemplifica a estética da surpresa e da simultaneidade da poesia de Apollinaire, altamente paratática, quase uma tradução verbal e cubista da experiência dos quadros "simultaneístas" de Robert Delaunay, com a paisagem da rua sendo desconstruída na linha de Cézanne. Uma naturza morta-viva de palavras, e que é capaz de abarcar tempos e espaços insuspeitos, numa poética que anuncia a consciência da aldeia global.

[1] Pihi, pássaro fantástico da lenda chinesa que teria um olho e uma asa, o que o obrigava a voar sempre em pares: o macho à direita, a fêmea à esquerda. Em vários poemas Apollinare se refere à fauna e seres imaginários.



[2]Referência a dois jornais de Paris da época de Apollinaire, O Tempo e A Liberdade

Fonte: Estúdio Realidade

2 comentários:

josé ferreira disse...

Olá Aline

gostei muito deste poema de Guillaume Apollinaire que desconhecia. curiosamente Sonia e Robert Delaunay, estiveram dois anos em Portugal, na cidade de Vila do Conde, junto ao mar. para conhecer um pouco dessa experiência que teve consequências nas suas pinturas e prolongou um convívio com os poetas dessa geração, junto o link http://amigos-de-portugal.blogspot.com/2008/06/robert-e-sonia-delaunay.html

Parabéns pela qualidade do blog :)

Aline Carla Rodrigues disse...

Que informação maravilhosa e enriquecedora! Muito, muito obrigada por sua belíssima participação no TRIBARTE! Amo o seu país e o acesso do meu blog é constante pelos portugueses. Sinto-me muito honrada com sua presença! Imenso abraço, Aline Carla.

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